quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Liberal Arts

   
   É um filminho bacana. Já tinha visto uma vez e odiado, achando que era um daqueles filmes, que promete e não cumpre, com problemas de roteiro onde nada acontece, a não ser um blábláblá pseudo intelectual. Mal prestei atenção e devo, com certeza, ter dormido no meio...
   Mas num dia vazio, você acaba dando chance a coisas que já viu e não gostou. Pura falta de opção dos canais por assinatura, que são todos uma merda sem exceção ou a produção cultural da atualidade  é um lixo mesmo. Vamos combinar que o cinema já teve dias melhores...
   Seja como for, dessa vez, eu vi às sete da manhã,  num horário em que raciocino melhor e em que as minhas emoções ficam mais puras...rs
   Numa das primeiras cenas em que o protagonista tem as roupas roubadas dentro de uma lavanderia por um vagabundo e sai correndo atrás dele e, logo em seguida ouve da namorada,:   
- Essa roupa é nova?
 - É, você gostou?’ 
- Não vou te dizer isso. Não é mais minha obrigação fazer você se sentir bem com você mesmo.
enquanto ela empacota uma pilha de livros pra ir embora, eu fiquei pensando:
   “Ok, um anti-herói perdedor clássico, os meus preferidos...”
   E, nessa hora , o filme me ganhou.



   Em seguida ele parte pra uma jornada de volta aos dias de faculdade, onde segue pra  dar apoio a um professor que lhe convida pra dizer umas palavras na cerimônia de homenagem antes da aposentadoria. A cena em que ele chega ao campus da universidade e se joga na grama, feliz, abrindo os braços como se fosse um anjo livre, é sensacional e entrega tudo o que o personagem é: alguém que não cresceu e que sente preso aos anos em que tudo podia ser e ainda não era...
   É exatamente o que eu sentia nos bancos da universidade – uma sensação de que tudo poderia "vir-a- ser", uma sensação estonteante de liberdade, de que eu poderia voar em qualquer direção...
   Esse vir- a- ser é tão melhor, em todos os sentidos, do que a realidade nua e crua.
   E o filme trata realmente dessa questão, que fica clara quando ele conhece uma estudante mais jovem (Elizabeth Olsen) e virgem que decide se envolver com ele. Os dois chegam a ter uma conversa sobre tudo isso, que envolve a promessa de uma vida, depois do campus.

Elizabeth Olsen e Josh Radnor


   É um assunto inesgotável, realmente. Quantas questões envolvem o ato de crescer e ser aquilo que se pode ser, o que se espera ser depois de um conhecimento adquirido nos bancos escolares e universitários. Afinal, a universidade fica sendo ou pretende ser uma pré-reparação da vida que nunca acontece e nunca prepara ninguém...
   Como Borges, eu acredito que as Bibliotecas são metáforas da vida...não é a toa, que quase no fim do filme, ele tem uma reflexão sobre o limite da fuga da realidade através dos livros. Não se pode se fechar numa preparação eterna, para algo que há de vir, e sempre há como se perder entre os livros e as bibliotecas, num eterno vir a ser que nunca se cumpre. Você pode viver eternamente dentro de uma, sem nunca crescer, como se ela fosse um labirinto, como num conto de Borges...ela pode resumir a própria vida, e reiniciar o ciclo do vir- a - ser, eternamente....
   As bibliotecas me atraem como se fossem pedaços do paraíso, exatamente como atraem esse personagem. São representações de um eterno recomeço, de uma eterna busca...
   Há ainda outros personagens interessantes: a professora competente e cínica(e sensacional!) de Romantismo, fria e desiludida; o professor, à beira da aposentadoria, que não consegue deixar o campus, porque se sente com 19 anos, embora tenha uns setenta, talvez...mostrando que uma maneira de se sentir jovem é viver entre os jovens, mas isso não te torna mais jovem efetivamente. Um balde de água fria.
   Mas melhor mesmo é o personagem de Zac Efron, um vagabundo que anda pelo campus dizendo frases feitas, clichês maravilhosos, uma espécie de mentor inculto do protagonista. Legal a cena que ele fala da lagarta virando borboleta e de como ela tem medo da transformação e de como esse medo é inútil, pois ela virará borboleta de qualquer jeito. Elementar, meu caro Watson...



   E, digo eu,  não adianta mesmo ter medo, porque de qualquer jeito, uma borboleta  com asas, por mais assustador que seja voar por aí e perder (ou não) as próprias asas,  vale mais do que uma lagarta que se arrasta...rs

Gostei do filme!

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