É um
filminho bacana. Já tinha visto uma vez e odiado, achando que era um daqueles
filmes, que promete e não cumpre, com problemas de roteiro onde nada acontece,
a não ser um blábláblá pseudo intelectual. Mal prestei atenção e devo, com
certeza, ter dormido no meio...
Mas num dia
vazio, você acaba dando chance a coisas que já viu e não gostou. Pura falta de
opção dos canais por assinatura, que são todos uma merda sem exceção ou a
produção cultural da atualidade é um
lixo mesmo. Vamos combinar que o cinema já teve dias melhores...
Seja como
for, dessa vez, eu vi às sete da manhã, num horário em que raciocino melhor e em que
as minhas emoções ficam mais puras...rs
Numa das
primeiras cenas em que o protagonista tem as roupas roubadas dentro de uma
lavanderia por um vagabundo e sai correndo atrás dele e, logo em seguida ouve
da namorada,:
- Essa
roupa é nova?
- É, você gostou?’
- Não vou
te dizer isso. Não é mais minha obrigação fazer você se sentir bem com você
mesmo.
enquanto ela empacota uma pilha de livros pra ir embora, eu fiquei pensando:
“Ok, um
anti-herói perdedor clássico, os meus preferidos...”
E, nessa
hora , o filme me ganhou.
Em seguida
ele parte pra uma jornada de volta aos dias de faculdade, onde segue pra dar apoio a um professor que lhe convida pra
dizer umas palavras na cerimônia de homenagem antes da aposentadoria. A cena em
que ele chega ao campus da universidade e se joga na grama, feliz, abrindo os
braços como se fosse um anjo livre, é sensacional e entrega tudo o que o
personagem é: alguém que não cresceu e que sente preso aos anos em que tudo
podia ser e ainda não era...
É
exatamente o que eu sentia nos bancos da universidade – uma sensação de que
tudo poderia "vir-a- ser", uma sensação estonteante de liberdade, de que eu
poderia voar em qualquer direção...
Esse vir-
a- ser é tão melhor, em todos os sentidos, do que a realidade nua e crua.
E o filme
trata realmente dessa questão, que fica clara quando ele conhece uma estudante
mais jovem (Elizabeth Olsen) e virgem que decide se envolver com ele. Os dois
chegam a ter uma conversa sobre tudo isso, que envolve a promessa de uma vida,
depois do campus.
É um
assunto inesgotável, realmente. Quantas questões envolvem o ato de crescer e ser aquilo que se pode ser, o que se espera ser depois de um conhecimento
adquirido nos bancos escolares e universitários. Afinal, a universidade fica
sendo ou pretende ser uma pré-reparação da vida que nunca acontece e nunca
prepara ninguém...
Como
Borges, eu acredito que as Bibliotecas são metáforas da vida...não é a toa, que
quase no fim do filme, ele tem uma reflexão sobre o limite da fuga da realidade
através dos livros. Não se pode se fechar numa preparação eterna, para algo que
há de vir, e sempre há como se perder entre os livros e as bibliotecas, num
eterno vir a ser que nunca se cumpre. Você pode viver eternamente dentro de
uma, sem nunca crescer, como se ela fosse um labirinto, como num conto de
Borges...ela pode resumir a própria vida, e reiniciar o ciclo do vir- a - ser,
eternamente....
As
bibliotecas me atraem como se fossem pedaços do paraíso, exatamente como atraem
esse personagem. São representações de um eterno recomeço, de uma eterna
busca...
Há ainda
outros personagens interessantes: a professora competente e cínica(e
sensacional!) de Romantismo, fria e desiludida; o professor, à beira da
aposentadoria, que não consegue deixar o campus, porque se sente com 19 anos,
embora tenha uns setenta, talvez...mostrando que uma maneira de se sentir jovem
é viver entre os jovens, mas isso não te torna mais jovem efetivamente. Um
balde de água fria.
Mas melhor
mesmo é o personagem de Zac Efron, um vagabundo que anda pelo campus dizendo
frases feitas, clichês maravilhosos, uma espécie de mentor inculto do
protagonista. Legal a cena que ele fala da lagarta virando borboleta e de como
ela tem medo da transformação e de como esse medo é inútil, pois ela virará
borboleta de qualquer jeito. Elementar, meu caro Watson...
E, digo
eu, não adianta mesmo ter medo, porque
de qualquer jeito, uma borboleta com
asas, por mais assustador que seja voar por aí e perder (ou não) as próprias
asas, vale mais do que uma lagarta que
se arrasta...rs
Gostei do
filme!
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