Uma amiga querida acha ousado de minha parte
que eu use chapéus na rua com naturalidade, embora vivamos num país tropical e
eu ande muito a pé pelas ruas cada vez mais sem sombras.
Árvores são perigosas. Por isso, as cidades
agora estão trocando suas árvores por jardins cercados dentro dos prédios ou
nas calçadas deles, com plantas que são cuidadosamente aparadas e passam por um
processo curioso de poda sádica que as faz ficarem, exatamente do mesmo tamanho
para sempre. Como bonsais.
Dia desses, aqui em Niterói, uma árvore velha
desabou sobre três carros e acabou com eles, claro ninguém quer que uma coisa
assim aconteça com os carros, então, nada de árvores.
A cidade precisa dos carros, não das árvores...
rsrs
Voltando aos chapéus, li na internet que a sua
invenção remonta às caçadas e guerras provavelmente na Babilônia ou Grécia.
Isso, há uns 2000 anos a.c. Mas, apesar de sua antiguidade clássica, muita
gente ainda não percebeu que eles existem. Dia desses num sol de rachar, eu
observava as pessoas andando na rua com papéis na cara; com as mãos cobrindo o
sol; com jornais improvisados na cabeça procurando sombras andando coladas nas paredes,
o que era meio cômico, ao invés de usarem um simples chapéu, tão mais prático.
Brasileiros são fãs do modismo e preferem andar
com um ridículo jornal na cabeça a pôr um chapéu, porque aqui, todos precisam
primeiramente que alguém( a mídia, a moda) lhes diga que algo é bonito e
descolado pra que seja usável. Não basta que seja necessário.
Tudo é moda nesse lugar: a bicicleta, por
exemplo, é a nova moda dos “descolados”. E parece que , ao contrário dos chapéus que continua
sendo usado nas ruas apenas por exóticos
“ousados” ou turistas de “pele sensível”rsrs , já pegou a modinha.
Eu mesma trabalho num bairro de ruas largas em
que andar de bicicleta é seguro, bom e viável. Todo mundo o faz com naturalidade , dos velhos às
crianças. Eles transitam o tempo todo em bicicletas comuns, o que eu acho o
máximo. Não é coisa de clubinho nem de modista exibido, é algo natural porque é
possível naquele lugar e há muito mais bicicletas do que carros por lá. Mas, aqui...
O fato é
que já se veem cartazes espalhados pela cidade com o lema: “Troque o seu
símbolo de status por um de inteligência. Vá de bike”. Ok, se for possível,
irei de bike. O fato é que a maioria das pessoas, como eu, trabalha longe
demais de casa para ir de bike aonde quer que seja. E, a infraestrutura da
cidade pra elas deixa a desejar...
Dia desses voltando a pé pra casa das barcas, as
recentes bikes e bicicletas incluídas no trânsito sem nenhum preparo para
recebê-las(e olha que ainda são poucas!), atrapalhava não só a passagem dos carros , ônibus e motocicletas, como também dos
pedestres. Elas avançavam sobre as calçadas e ruas indiferentemente, competindo
o espaço livre (que não há nesta cidade) de modo alarmante.
Querer
espaço livre na hora do rush significa atropelar alguém ou ceder o seu lugar
pra ele e é exatamente isso que os
motoristas de bike esperam que os outros façam: desviem pra que eles
passem, (isso com 60 pessoas querendo
dividir uma calçada ao mesmo tempo).
Usam
aquelas buzininhas infernais no seu ouvido ao exagero, o que acontece, quase
sempre, quando eles já estão em cima de você praticamente. E, ai de você, se
não sair da frente deles...
Lembram bastante as mães sem noção (sim, porque
há mães dessa natureza) nas portas dos colégios e nas ruas com seus carrinhos de bebês enormes tomando
todo o espaço das calçadas, esperando que os outros andem atrás delas com
paciência de monge , ao invés de se afastarem educadamente um milímetro pra que
outros apressados possam seguir seus destinos de seres sem tempo algum...
Nesse dia ficou claro pra mim, que por enquanto
as bikes não passam de uma alternativa de modismo e uma maneira de se exibir
com um símbolo de status diferente dos carros e ainda tirando “onda de
ecológico”, quando a gente sabe que muita gente que anda de bike só tá querendo
é “tirar onda” mesmo e, de ecológico não tem
nadicas de nada. rsrs
Se vocês ouvissem o papo que ouvi nas barcas
entre dois adeptos do modismo, iam ver que isso é verdade. Eles não falavam de
uma maneira “fácil de se locomover”, mas como dois adolescentes envolvidos por
um brinquedinho-fetiche, eles falavam do
“valor” agregado daquela coisa toda: dos
apetrechos , do preço disso e daquilo, da necessidade dessa peça ou da outra, exatamente como falam os motoristas que eles criticam dos carros poderosos e
símbolos de status. Ué, mas era pra ser assim? Pois é...
E, nas barcas posso dizer que as bikes perigam
se tornar um absoluto transtorno. No
futuro, terão que criar uma barca só pra elas.
E até autoescola pra “usuários sem noção”. Ou seja, é todo um mundo a
ser aberto para o capitalismo selvagem.... eis aí um ramo para os empresários
de plantão!rsrs
Acho genial que um país como a China use a
bicicleta como meio de locomoção e que isso funcione por lá, onde já é algo
cultural e nada tem a ver com modismo, fetichismo, exibicionismo, egoísmo e
nenhum desses ismos. Não creio que seja o caso aqui em Niterói. É uma cidade
que não tem nenhum ajuste pra elas, tem um trânsito horroroso, pessoas demais
nas ruas, movimentação constante, motoristas ruins e muita gente se achando o
dono das mínimas calçadas... mas, vocês sabem, os adeptos de modismo não pensam no lugar onde
vivem, eles não querem nem saber...
Quando a moda pegar forte (e vai pegar, porque
como eu disse, o povo daqui não tem personalidade nem opinião própria) e começarem
os desastres dos ciclistas (que dirigem tão mal e tão arrogantemente quanto os
motoristas), não digam que não avisei...
Quero deixar meu ponto de vista claro, ainda
que seja polêmico(só pra gente besta que não gosta de pensar nas coisas rsrs), mas
aqui vai: gostaria muito que a bike
fosse uma solução pro trânsito aqui e agora , mas não acho que seja por
enquanto, até que prefeitos criem toda uma estrutura de acomodação pra elas e as pessoas se eduquem pra usá-las. Pois, ouso dizer que muitos que são maus
motoristas, serão piores em cima de uma bike...
O que podemos esperar, no momento é só mais
confusão no trânsito, mais coisas caóticas acontecendo pra se prestar atenção e mais acidentes.
Sejamos lógicos: para curtas distâncias, quem
vai de bike, pode ir a pé, sem precisar atropelar ninguém. É só comprar um bom
tennis e é bem mais barato rsrs.