domingo, 26 de outubro de 2014

Os chapéus , as árvores e a opção "inteligente"


Uma amiga querida acha ousado de minha parte que eu use chapéus na rua com naturalidade, embora vivamos num país tropical e eu ande muito a pé pelas ruas cada vez mais sem sombras.

Árvores são perigosas. Por isso, as cidades agora estão trocando suas árvores por jardins cercados dentro dos prédios ou nas calçadas deles, com plantas que são cuidadosamente aparadas e passam por um processo curioso de poda sádica que as faz ficarem, exatamente do mesmo tamanho para sempre. Como bonsais.

Dia desses, aqui em Niterói, uma árvore velha desabou sobre três carros e acabou com eles, claro ninguém quer que uma coisa assim aconteça com os carros, então, nada de árvores.

A cidade precisa dos carros, não das árvores... rsrs

Voltando aos chapéus, li na internet que a sua invenção remonta às caçadas e guerras provavelmente na Babilônia ou Grécia. Isso, há uns 2000 anos a.c. Mas, apesar de sua antiguidade clássica, muita gente ainda não percebeu que eles existem. Dia desses num sol de rachar, eu observava as pessoas andando na rua com papéis na cara; com as mãos cobrindo o sol; com jornais improvisados na cabeça  procurando sombras andando coladas nas paredes, o que era meio cômico, ao invés de usarem um simples chapéu, tão mais prático.


Brasileiros são fãs do modismo e preferem andar com um ridículo jornal na cabeça a pôr um chapéu, porque aqui, todos precisam primeiramente que alguém( a mídia, a moda) lhes diga que algo é bonito e descolado pra que seja usável. Não basta que seja necessário.
Tudo é moda nesse lugar: a bicicleta, por exemplo, é a nova moda dos “descolados”. E parece  que , ao contrário dos chapéus que continua sendo usado nas ruas  apenas por exóticos “ousados” ou turistas de “pele sensível”rsrs , já pegou a modinha.

Eu mesma trabalho num bairro de ruas largas em que andar de bicicleta é seguro, bom e viável. Todo  mundo o faz com naturalidade , dos velhos às crianças. Eles transitam o tempo todo em bicicletas comuns, o que eu acho o máximo. Não é coisa de clubinho nem de modista exibido, é algo natural porque é possível naquele lugar e há muito mais bicicletas do que carros por lá.  Mas, aqui...



 O fato é que já se veem cartazes espalhados pela cidade com o lema: “Troque o seu símbolo de status por um de inteligência. Vá de bike”. Ok, se for possível, irei de bike. O fato é que a maioria das pessoas, como eu, trabalha longe demais de casa para ir de bike aonde quer que seja. E, a infraestrutura da cidade pra elas deixa a desejar...

Dia desses voltando a pé pra casa das barcas, as recentes bikes e bicicletas incluídas no trânsito sem nenhum preparo para recebê-las(e olha que ainda são poucas!), atrapalhava não só a passagem  dos carros ,  ônibus e motocicletas, como também dos pedestres. Elas avançavam sobre as calçadas e ruas indiferentemente, competindo o espaço livre (que não há nesta cidade) de modo alarmante.

Querer espaço livre na hora do rush significa atropelar alguém ou ceder o seu lugar pra ele e é exatamente isso  que os motoristas de bike esperam que os outros façam: desviem pra que eles passem,   (isso com 60 pessoas querendo dividir uma calçada ao mesmo tempo).

Usam aquelas buzininhas infernais no seu ouvido ao exagero, o que acontece, quase sempre, quando eles já estão em cima de você praticamente. E, ai de você, se não sair da frente deles...

Lembram bastante as mães sem noção (sim, porque há mães dessa natureza) nas portas dos colégios e nas ruas  com seus carrinhos de bebês enormes tomando todo o espaço das calçadas, esperando que os outros andem atrás delas com paciência de monge , ao invés de se afastarem educadamente um milímetro pra que outros apressados possam seguir seus destinos de seres sem tempo algum...

Nesse dia ficou claro pra mim, que por enquanto as bikes não passam de uma alternativa de modismo e uma maneira de se exibir com um símbolo de status diferente dos carros e ainda tirando “onda de ecológico”, quando a gente sabe que muita gente que anda de bike só tá querendo é “tirar onda” mesmo e, de ecológico não tem  nadicas de nada. rsrs

Se vocês ouvissem o papo que ouvi nas barcas entre dois adeptos do modismo, iam ver que isso é verdade. Eles não falavam de uma maneira “fácil de se locomover”, mas como dois adolescentes envolvidos por um brinquedinho-fetiche, eles falavam  do “valor” agregado daquela coisa toda:  dos apetrechos , do preço disso e daquilo, da necessidade dessa peça ou da outra,  exatamente como falam os motoristas  que eles criticam dos carros poderosos e símbolos de status. Ué, mas era pra ser assim? Pois é...

E, nas barcas posso dizer que as bikes perigam se tornar um absoluto transtorno.  No futuro, terão que criar uma barca só pra elas.  E até autoescola pra “usuários sem noção”. Ou seja, é todo um mundo a ser aberto para o capitalismo selvagem.... eis aí um ramo para os empresários de plantão!rsrs

Acho genial que um país como a China use a bicicleta como meio de locomoção e que isso funcione por lá, onde já é algo cultural e nada tem a ver com modismo, fetichismo, exibicionismo, egoísmo e nenhum desses ismos. Não creio que seja o caso aqui em Niterói. É uma cidade que não tem nenhum ajuste pra elas, tem um trânsito horroroso, pessoas demais nas ruas, movimentação constante, motoristas ruins e muita gente se achando o dono das mínimas calçadas... mas, vocês sabem,  os adeptos de modismo não pensam no lugar onde vivem, eles não querem nem saber...

Quando a moda pegar forte (e vai pegar, porque como eu disse, o povo daqui não tem personalidade nem opinião própria) e começarem os desastres dos ciclistas (que dirigem tão mal e tão arrogantemente quanto os motoristas), não digam que não avisei...

Quero deixar meu ponto de vista claro, ainda que seja polêmico(só pra gente besta que não gosta de pensar nas coisas rsrs), mas aqui vai: gostaria  muito que a bike fosse uma solução pro trânsito aqui e agora , mas não acho que seja por enquanto, até que prefeitos criem toda uma estrutura de acomodação pra elas  e as pessoas se eduquem pra usá-las.  Pois, ouso dizer que muitos que são maus motoristas, serão piores em cima de uma bike...

O que podemos esperar, no momento é só mais confusão no trânsito, mais coisas caóticas acontecendo pra  se prestar atenção e mais acidentes.

Sejamos lógicos: para curtas distâncias, quem vai de bike, pode ir a pé, sem precisar atropelar ninguém. É só comprar um bom tennis e é bem mais barato rsrs.







A pé você enxerga a cidade melhor e conhece mais a natureza das pessoas... 

domingo, 5 de outubro de 2014

A VIDA SECRETA DE WALTER MITTY

Vi uma crítica negativa deste filme num site de cinema e outra positiva, num blog. Não confio em blogs e por isso tenho um, claro rsrs. Mas , resolvi assistir ao filme assim mesmo, primeiro porque adoro o  Ben Stiller, e segundo, porque adoro controvérsias.


Bem os dois estavam certos ao mesmo tempo: o filme é bem bobo mesmo, desses que sobram cenas hollywoodianas: exageradas, mentirosas, implausíveis. Num certo momento ele fica tão farsesco, que a gente pensa que o roteirista só pode estar chamando a gente de idiota...mas é nessas horas justamente que o filme nos compensa com cenas de tirar o fôlego , tal a beleza das imagens.

Sinceramente, é um filme irresistível. O cidadão precisa estar muito mal com a vida, pra não se emocionar com ele. Eu juro que chorei. É um filme emocionante e lembra como o cinema pipoca às vezes é exatamente o tipo de filme que precisamos ou queremos ver.

O sucesso desse tipo de filme é como o dos livros de autoajuda: faz com que o cidadão ordinário, comum , acredite que sua vida tem valor.

Se você é  como eu, e  já viu alguém  comum , normal,  morrendo e avaliando a própria vida à beira da morte, vai perceber, como eu percebi, que toda vida tem valor mesmo. Aquela história do grão de areia no oceano. E isso não é nenhuma mentira... acho que eu até podia  pensar em escrever livros de autoajuda baseada nisso, mas vou deixar essa tarefa pra outra pessoa...rs

De qualquer maneira o filme funciona e mais ainda porque conta com a presença de Sean Penn, que faz o fotógrafo Sean.  É  isso aí, ele quase interpreta ele mesmo rsrs.

A grande sacada do filme é mesmo a ideia contida na “filosofia” do fotógrafo brilhante e enigmático que diz ao encontrar um leopardo raro que se esconde nas montanhas do Himalaia: “ coisas bonitas não precisam de atenção” . Ai, meu Deus, quanta gente devia ouvir isto!!!

 Ele espera horas pra fotografar o leopardo, mas quando o animal finalmente vem   e  olha direto pra câmera dele, ele perde a foto, de propósito. Pra não perder o leopardo, ele perde a foto!!!

Ele fez eu me lembrar da melhor foto perdida da minha vida: eu estava no Corcovado com um primo adorado  pela primeira vez.  Tivemos azar  e o dia , que estava bom  , nublou de repente. Uma nuvem enorme cobria o rosto do Cristo. Eu, que queria bater fotos,  comecei a reclamar e ficar mal humorada. No momento EXATO em que  eu terminei o meu discurso idiota,  olhamos os dois pro Cristo e a nuvem se dissipou como se fosse um milagre da sincronia,  saiu da frente dele, ANDANDO  EM LINHA RETA COMO SE TIVESSE PERNAS, assim como num filme mesmo, de Hollywood. E LÁ ESTAVA: o CRISTO e a nuvem sumindo do rosto dele.

O Cristo  apareceu bem claro então, com o sol por trás e foi como se fosse uma aparição, uma coisa mágica. Ficamos sem fôlego:

“Você não vai bater a foto?” meu primo perguntou

Eu, que fiquei tão besta olhando aquilo, não tive reação suficiente pra pegar a câmera etc.

Falei baixinho:

“Essa vai ser revelada na memória.”

Nunca esquecemos essa cena. Foi perfeita!!!!

Tanto que nunca mais voltei no Cristo, tenho medo de estragar essa primeira experiência...

Eu também adorei aquele leopardo na lente do fotógrafo que perdeu a foto e o filme me ganhou ali, para sempre!